domingo, 16 de agosto de 2009

Vida nova. Nova vida.

Henrique acordou nesta segunda-feira sabendo que, agora, as coisas iriam melhorar. Seus pés tocaram o chão com a confiança de que o futuro seria diferente. Lembrou-se das palavras aconselhadoras de sua mãe. Da preocupação exagerada do seu pai. Lembrou-se, também, que seguiu seus sonhos. Seu maior erro. Pelo menos, até ali. Foi até o banheiro. Ligou o torneira. Água fria, para mudar o aspecto do fracasso. A ocasião pedia uma mudança. Foi à prateleira, pegou o melhor perfume e tomou um novo banho. Foi ao armário, pegou as melhores roupas e sentiu-se um faraó. Ele havia se preparado a vida inteira para aquilo. Aquela nova realidade. A sua nova realidade. Deu uns passos até a cozinha e, enquanto o café não ficava pronto, ensaiou novamente como se apresentaria. "A primeira impressão é a que fica" repetia para si mesmo, mentalmente. Só Henrique era capaz de compreender Henrique. Café pronto. Forte. Sem açucar. Desceu bem. Despertou a auto-confiança do homem. Em cima da mesa, uma revista do mês passado. Folheou-a com o objetivo de adquirir alguma cultura, algum assunto. Percebeu tratar-se de uma revista de celebridades. Inútil para o momento. Inútil para sua vida nada glamurosa. Destino: lixo. Igual aos conselhos dos seus pais. Olhou no relógio. Dez minutos para o ônibus passar. Precisava correr. Foi até o espelho. Uma última disfarçada na careca que ameaçava nascer. Pasta num braço, currículos no outro. Sorriso na cara. Otimismo. Foi-se em busca da tal mudança.

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