terça-feira, 1 de setembro de 2009

O melhor conto de todos.

Onde quer que fosse, levava um bloquinho. Capa verde, umas cem folhas mais ou menos, portátil, de bolso. Fiel escudeiro. Era comum as pessoas perguntarem o que tanto ele escrevia no bloquinho. Era comum elas escutarem a mesma coisa. "Meu bloquinho alimenta minha mania", dizia. Uma mania um tanto quanto estranha, diga-se de passagem. Era fanático por rankings. De cinco, dez, quinze. Tanto faz, desde que fosse um ranking. Cervejas, bundas, times, peitos, filmes, matérias chatas, livros. Tinha de tudo um pouco no tal bloquinho, o vigésimo sétimo, até então. Os outros vinte e seis ele deixava guardado à sete chaves. Suas manias diziam respeito a ele. E somente a ele. Um dia, porém, ele quase deixa escapar o segredo. Chegou atordoado em casa e chamou pela mãe. "Ô, mãe! Mãe! Manhê! Cadê meus bloquinhos?", perguntou. "Que bloquinhos, Gilberto? O que você tá usando? Eu sabia que seus amigos eram má gente.", lamentou a mãe. Ignorou e passou batido. O alívio pelo segredo mantido veio depois, quando caiu em si. Ele sabia bem onde estava o bloquinho, mas estava atordoado. Os olhos meio murchos, a bochecha meio caída, assim como sua auto-estima. Entrou no próprio quarto sem bater. Abriu a gaveta e começou a procurar. Bloquinho quatro. Bloquinho treze. Bloquinho vinte e um. Bloquinho um. Finalmente, o bloquinho um! Levantou a capa verde e encontrou o ranking que queria. O mais importante de todos. Digno da primeira página do primeiro bloquinho. "O pior dia de todos" estava escrito. Pegou a caneta vermelha e preencheu o único espaço em branco da página. Primeiro lugar.

1 comentários:

Tiago Moralles disse...

Sensação retroativa.