terça-feira, 8 de setembro de 2009

Apertamento.

Sem se mover há um bom tempo, sentia-se incomodado. Olhava ao seu redor só para constatar que não havia nada que pudesse fazer. Nem para se divertir, nem para sair dali. Sem TV, sem videogame, sem namorada. Aquela sensação de nada era tudo o que podia ter, pelo menos por enquanto. E lá, no canto, todo embrulhado, lembrou-se do seu antigo lar, se é que ele pode ser chamado assim. O lugar era um saco, mesmo compartilhado com outros inquilinos. Um bando de porra loucas, em sua imensa maioria. Tanto que, de vez em quando, eram despejados por aí. Lembrou-se, também, da briga que foi para comprar a casa onde hoje morava. De fato, aquela foi uma oportunidade única. Daquelas que surgem uma vez na vida e outra na morte. E só. Percebeu a injustiça que acabara de cometer. Estava reclamando de barriga cheia. Mas não literalmente. A fome dava sinal de vida e a única coisa que havia pra comer era uma gororoba pseudo-nutritiva um tanto quanto nojenta. Já eram meses e meses naquela situação. Escuro, silêncio, chatice, gororoba. Sentiu uma aflição percorrer seu corpo frágil. Precisava sair dali. Urgentemente. Debateu-se de um lado para o outro num claro sinal de rebeldia. Tão jovem e tão bagunceiro. De fato, conseguiu chamar a atenção. Do lado de fora, um grito prolongado rasgou a calmaria que perdurava há tanto tempo. Um grito de mulher. Um grito de mãe. Se tudo desse certo, dentro de pouco tempo ele mudaria sua vida.
Ou melhor, começaria.

1 comentários:

Gordinha disse...

Ai mães! Sempre são um porto seguro!
Belo conto!
=D