sábado, 31 de outubro de 2009

Wake up call.

Cabeça baixa. Andava sossegado. Divertia-se chutando uma velha lata de cerveja pra lá e pra cá. Era só mais um dia na megalópole. Salário baixo, emprego inútil, casa vazia. Ergueu os olhos e admirou por alguns instantes as pessoas realmente felizes. Frações de segundo onde ele decidia mudar de vida. Aquela era a trigésima nona mudança do dia. Daquela volta pra casa. Mas estava tudo bem. A vida seguia, o ano estava só começando, e ele estava vivo. O metrô passava embaixo dos seus pés, fazendo seu corpo tremer levemente. Não sabia bem por que, mas aquilo sempre o fazia refletir sobre a imensidão, o universo, o preto. Essa porra toda. Como sempre, ignorou seus pensamentos e seguiu adiante.
Cinquenta metros à frente, um homem lhe ofereceu a bíblia. Recusou. Vinte metros à frente, um velho lhe ofereceu cocaína. Recusou. Cinco metros à frente, uma mulher lhe ofereceu o corpo. Também recusou. A vida não precisa de mudanças, quando essas não são bem-vindas. Finalmente chegou ao portão de casa. Tateou o bolso em busca das chaves e, enquanto o fazia, olhou para trás. Subitamente, parou a procura. Estava perturbado. As pupílas dilatadas e a boca seca. Esperou alguns minutos e seguiu seu caminho, deixando para trás a gravata de vigia e suas chaves. Dessa vez, o caminho seria diferente. Sem destino. E refletido em suas chaves, o brilho repetido das luzes de natal que enfeitavam a casa do vizinho da frente.

1 comentários:

Camila disse...

Bem que minha mãe diz que nem tudo que oferecem podemos aceitar...


BeijOs



Ps. Cada vez mais admirada.