quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Paraíso.

Corria desesperadamente há uns bons minutos. E, na mesma velocidade dos seus pés, pensamentos rasgavam sua mente. Quando isso vai parar? Pra que continuar fugindo? Olhou para o céu e enxergou o azul transformar-se num laranja perturbador, para logo em seguida voltar a ser azul novamente. Ao menos as duas luas negras ainda estavam lá. Respirou aliviado com o pouco de fôlego que ainda restava em seus pulmões e voltou seus olhos em direção ao horizonte, logo após as árvores que choram. Ouviu o urro de uma besta. Apertou o passo. O desespero era tanto que nem parou para olhar os corvos que se alimentavam dos olhos de um cadáver ainda fresco. Mesmo aquela sendo uma cena corriqueira, merecia uma espiada. Afinal, são olhos. Olhos e corvos. A intensidade dos urros aumentou. Raios explodiam aos seus pés. Nada o faria parar. Passou pela velha pirâmide que, outrora, serviu de abrigo para alguma divindade com fetiche por pés. De fato, a tribo dessas bandas sempre foi muito estranha. Sentiu um hálito podre invadir o ar. Seria aquele odor nativo dos esgotos do inferno? Que nada. Todo mundo já sabia que o inferno era nada mais, nada menos, que um puteiro. O demônio em pessoa assumiu isso no programa da Oprah. Aquele cafetão. Lembrar do demônio sempre o fizera rir, mas não dessa vez. Justamente quando ensaiava um sorriso preguiçoso olhou pra trás e, sabe-se lá como, deu de cara com a besta, sedenta por crânios. Dez metros de altura. A cabeça de leão, o corpo de cavalo, os pés de elefante, os tentáculos de kraken e os dentes de tubarão. Uma imensidão negra envolveu-o completamente. Seu corpo estremeceu só em pensar que aquela era a sombra da sua pata. Uma das seis patas. Deu adeus aquele mundo amaldiçoado e acordou. Caralho, sussurrou no sofá estampado da casa dos pais. A agulha ainda estava picada na veia.

1 comentários:

Gordinha disse...

Isso que foi uma viagem, hein? Pelo menos revela o que que tinha nessa picada aí! ahahahahha!
Abraços!
=D