quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Diálogo #2 - Terceiro grau.

Homem de meia-idade, solteirão e do tipo largado, acorda no meio da madrugada com uma luz verde no quintal. De imediato, veste um roupão de listras vermelhas e corre para conferir. Ao abrir a porta de vidro, depara-se com um alienígena tirando os trajes espaciais para dar um mergulho na piscina.
- CREIO EM DEUS PAI! O QUE É ISSO?! - berrou o tiozinho, com um pulo pra trás.
- Xindschnaus Milaus Drenaus. - respondeu o ET, estendendo a mão de sete dedos finos e azuis.
- Meu, o que que você tá falando?
- Olá!
- Olá?
- É! Olá! Foi mal, é que eu esqueci de ligar o tradutor.
- Tradutor? Mas você tá pelado, cara!
- É embutido.
- Embutido? Mas entra por onde?
- Velho, na moral, você tá fazendo perguntas demais, não acha?
- Perguntas demais? Eu? Tem certeza? ALÔ?! TEM ALGUÉM AÍ?!
- Já que é pra ficar nessa de perguntar: você não vai me oferecer uma cerveja ou algo do tipo?
- Não! Claro que não! Você chega assim, com essa... essa... Isso aí é uma rôla?
- Ah! Vai arranjar o que fazer. Puta cara chato.

Irritado, o alienígena sobe seus trajes espaciais e entra sem qualquer cerimônia, esbarrando propositalmente no ombro do tiozinho, que, antes de entrar, fica parado, por uns segundos fazendo medidas imaginárias com as mãos ao mesmo tempo em que olha para as partes baixas.
- Então, onde é que fica a parte boa dessa casa? - o amigo espacial questiona.
- Você quis dizer cachaça? Fica aí à sua direita, nesse armário com a porta quebrada.
- Hummm... Achei! Mas, porra, Velho Barreiro? Não tem algo de qualidade aí?
- Não, só Velho Barreiro. Homem que é homem bebe Velho Barreiro.
- Eu não sou homem, esqueceu?
- Esquecer eu não esqueci, mas até agora eu não sei quem ou o que você é.
- Puxa uma cadeira aí que eu explico.

O tiozinho obedeceu e sentou-se de frente com o ET. Uma dose de cachaça foi servida, fizeram um brinde e mandaram numa talagada só. Outra dose foi servida e repousou nos copos enquanto a conversa se desenrolava.
- Então, o que você quer saber?
- Pra começar, qual é seu nome?
- Lá no meu planeta é Alundrabumbalumba. O equivalente a João por essas bandas.
- João?! É o meu nome! Mas, vem aqui, xará, que porra de planeta é esse?
- É um planetinha que fica um pouco depois do sol, chama-se Othac Arp Ohlarac.
- E o que você quer aqui, mais especificamente na minha piscina, com a rôla de fora? Aquilo era uma rôla, né?
- Sei lá. Eu só queria me divertir um pouco. Não tem nada pra fazer lá onde eu moro. Não tem mulher, não tem cachaça, não tem guerra, nem futebol. E eu não comento sobre minha rôla.

João, o alienígena, manda outro copo de Velho Barreiro pra dentro. João, o ser humano, acompanha.
- Cara, desculpe dizer, mas você fez merda. As coisas legais acontecem lá nos Estados Unidos.
- Estados Unidos o caralho. Já tá batido. Tô fora de viajar três bilhões de quilômetros pra encontrar meus conterrâneos. Eu quero conhecer gente nova.
- Mas, cara, aqui não tem porra nenhuma pra fazer.
- Como não? Tem cachaça e tem você.
- E daí? Só isso, mais nada.
- Na moral, alguém precisa de algo mais?
- Como assim?
- Cachaça e amigos, velho. Só isso basta.
- E-E-E-Eu? Seu amigo? É mesmo?
- Claro! Você é foda pra caralho, cara!
- Você também é foda! Você é foda demais! Eu te amo, cara!
- Eu também te amo! Dá cá um abraço!

Os dois mandam outra dose e se abraçam calorosamente, com tapinhas nas costas.
- Ei, mas pera aí. Não é nada contra você, amigo humano, mas falta uma coisa.
- O quê? Amendoim?
- Não, cara!
- Batata frita?
- Não! Faltam peitos! Muitos peitos! Peitos grandes!
- Ahhhh, isso eu tenho aos montes. Dá um pulo ali na geladeira.
- Na geladeira? Vocês humanos fabricam peitos?
- Bem, fabricamos, de certa forma. Eu explico depois. Mas eu não quis dizer dentro da geladeira, e sim fora.
- Esses papeizinhos aqui?
- É! Aí mesmo! É só você escolher.
- Hummm, deixa eu ver. Mimosa, peitos durinhos, bunda mais ainda, valor a negociar, Tá se achando demais, não quero. Sheila, ninfetinha com corpo de mulher, faço tudo, R$50,00 completo, Parece bacana, que cê acha?
- O preço tá bom. Ela costumava cobrar mais caro. Você tem alguma grana aí?
- Minha moeda não vale aqui, bro.
- Pior que é. Tá bom, vai. Pode chamar que eu banco essa.

O alienígena pegou o celular com uma mão, o papelzinho da Sheila com a outra, o copo de Velho Barreiro com outra e apontou para o tiozão com a outra. Era como se eles se conhecessem a tempo.
- Cara, acho que esse é o começo de uma grande amizade.
- Ou, no mínimo, de uma grande foda. A Sheilinha arregaça.
- À nossa!
- À nossa!

Homenagearam os mortos. João deixou cair um pouco de cachaça no chão, enquanto o outro João jogou um pouco de cachaça pro ar. Mandaram a última dose daquela garrafa pra dentro e já pegaram outra no armário. Aquela seria uma longa e esquisita noite.

3 comentários:

Mic disse...

credo, homens não vivem sem mulher mesmo né, até os que são de outro planeta!!

engraçado, gostei =)

Vinicius P. disse...

Você é foda cara! Tá demais!

Ahas. disse...

Meu, sensacional! Deu até vontade de tomar uma pinga, ou ligar para a sheila! hahahahaah