domingo, 27 de junho de 2010

Tudo o que eu não devia escrever.

Passei o dia fazendo absolutamente nada da vida. Passei o dia lutando para alargar o buraco no qual eu me enfiei há muito tempo e do qual eu não tinha a mínima intenção de sair. Bati aproximadamente quatro punhetas, cheirei cocaína e assisti a filmes de terror dos anos quarenta. E, por mais que tentem convencer você do contrário, eles são uma verdadeira bosta. Vocês sabem, quase não existem bocetas neles. E a única coisa que os velhos sabem fazer é mijar, cagar e rezar para que alguma divindade a vinte reais a hora consiga levantar aquela pica murcha sem que isso resulte em um infarto ou um AVC. Aí o telefone tocou. Do outro lado da linha, o mundo real.
- Vito?
- Não. Aqui não é o Vito.
- Quem tá falando, então?
- O que restou dele.
- Eu posso deixar um recado?
- Você que sabe. Eu duvido que ele receba.
- Avise a ele que ele está demitido, ok?
- Pode ser. Eu falei com quem?
- A porra do chefe dele.
- Eu sei. Senti o cheiro.

E agora eu não tinha mais emprego, mas não dava a mínima para isso. Embora eu fosse realmente bom no que eu fazia, eu me sentia melhor no meu lugar, no meu buraco. Ao menos até eu morrer de fome, ou algo do tipo. Era a desculpa perfeita para passar o resto do dia no sofá, tentando continuar assim. Eu convivia com a infelicidade e a miséria há tanto tempo que a única maneira de eu me sentir bem comigo mesmo é quando eu me sentia mal, da mesma forma que as coisas só pareciam certas quando estava tudo errado. Era a vida que Deus tinha para me oferecer, aquele grande brincalhão. Sorri ao relembrar da ligação, fiquei puto por isso e resolvi escrever minhas merdas.

Que tal falarmos hoje das mulheres? Sim, as mulheres, aquelas desgraçadas. Vocês sabem, elas já saem da maternidade premeditadas ao inferno. À filha da putisse. Mulheres, essas vagabundas. Elas são especialistas. Sabem como ninguém como entrar em você. Pois é. Você acha que é você que entra nelas, quando, na verdade, quem entra em quem são elas. Elas entram no seu coração, sugam tudo o que você tem de melhor e depois acham outra pica para sentar e ter orgasmos múltiplos. Aquelas vadias. Elas sugam o seu melhor, sugam a sua capacidade de ser um ser humano admirável. Tornam-se pessoas melhores, pessoas decentes, pessoas comíveis. E acham outra pica que as queira. Por mais que você a queira, elas não querem mais você. O seu melhor já está com elas, a missão delas já está cumprida. Elas agora querem algo diferente. Querem um caipira, um fazendeiro filho da puta dono de umas fazendas, um lixo da humanidade. Elas querem outra pica, outro coração infeliz, outra coisa que possa encher aquela porra daquela boca de porra. Porra. Caralho. Filhas de uma puta. Vocês sabem, as mulheres são uma necessidade. Deus, aquele grande cheirador de cocaína nos criou com uma rôla com o único pretexto de se divertir às nossas custas. De enxergar-nos, do seu trono e das suas virgens divinas, enquanto nós choramos, nos humilhamos, perdemos nossa cabeça, nossa identidade, em nome da boceta, aquele buraco causador de desgraça e inferno. Coma uma boceta e veja sua vida se tornar um grande inferno. Coma uma boceta e acabe em um relacionamento de quatro anos que vai te levar a horas de psicanálise e meses de abstinência sexual. Vocês sabem, eu estou chorando. Chorando e lembrando da minha menina. Agora ela senta em outra pica. Um fazendeiro, ou algo do tipo. E eu bato punhetas com a mesma velocidade que ela tem orgasmos na pica do fazendeiro. Dadôra de bunda. Vocês sabem, eu esmurro minha porta e chuto meu armário. Não resta mais nada no meu quarto, não resta mais nada no meu coração, não resta mais nada na minha alma. Vocês sabem, eu entendo perfeitamente as causas de crimes passionais. O coração sempre fala muito mais alto que o bom senso. O coração, essa grande bomba de bosta que irriga seu corpo com ódio, amor, ódio, amor, ódio, amor. Eu estou apaixonado, ela não. Eu sinto falta do seu toque, dos seus cabelos ruivos, das suas frustrações, das suas fraquezas. Sinto falta de fazê-la uma pessoa melhor, mesmo que seja para que ela cavalgue outro caralho. Balançando aquelas tetas deliciosas e pedindo desesperadamente para que o fazendeiro as chupe. Ela me pede favores e eu atendo prontamente. E esses favores resultam em sentadas e chupadas e orgasmos no cara. Eu preparando-a para outro. Ela está gostosa, não é? Imagino. Foi eu quem fez. E eu bato punheta e choro e saio todas as noites para beber num bar que fica a cinco quilômetros de casa. Vocês sabem, quem escreve aqui sou eu mesmo. Victor. Ou Vito. Vocês sabem. Eu não sei. Vocês sabem. A vida de filho da puta. E isso é tudo. Tudo o que eu não devia escrever.

0 comentários: