quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Anjos não existem.

E aí eu resolvi dirigir. Simplesmente tive o tal estalo. A tal luz divina. Epifania e o caralho a quatro. Desculpa de viciado em cogumelos que eu sei bem. Mas eu resolvi dirigir. Peguei meu Gol noventa e oito e sai por aí. Era um carro simpático. Nunca ganhei boceta nenhuma com ele, mas era simpático. Tinha cheiro de frango com boceta. Eu disse que não ganhei boceta nenhuma COM ele, mas ganhei algumas nele. Enfim, e lá tava eu nas ruas. De carro. Pelo incrível que pareça. Cruzei Rebouças, cruzei Faria Lima, cruzei Paulista. E porra nenhuma acontecia por ali. Umas mulheres desfilavam seus rabos entupidos de botox, uns engravatados corriam pra cá e pra lá. A gravata voando ao vento, sempre fingindo pressa. PRESSA, MUITA PRESSA. Pressa para voltar para o caralho do chefe e para a pica dura da mulher cansada de ser submissa. Promoção aos vinte e nove, demissão aos trinta e dois, suicídio aos trinta e três. Eu já escrevi sobre isso, vocês sabem.
Enfim, era tudo gente lixo. Paulista é tudo lixo. Carioca é tudo lixo. Você também é lixo, antes que eu me esqueça. E meu carro parecia cada vez mais inferior naquelas redondezas. Deus, como a riqueza é insuportável. Ela só funciona para quem a tem. O resto só sabe sonhar com ela, correr atrás dela. A riqueza é aquele sonho bom que nunca acontece. É aquela boceta cheirosa e impossível, como todas as outras. E aí eu fui baixando o nível e subindo minha vontade de respirar e me manter vivo. Usuários de crack, chupetas a dez reais, professoras de português, engraxates, alunos de teatro. O diabo em pessoa em cada sorriso já morto de cada esquina escura em plena tarde de segunda-feira. E eu escrevendo e sobrevivendo. Sobrevivendo, não vivendo, antes que eu me esqueça. A vida parece muito mais correta quando tudo ao seu redor é errado. Lindo de se ver. Eu abraço o demônio e Jesus Cristo ao mesmo tempo. Amigos de bar etc e tal.
Eu dirigia com calma, apreciando a paisagem. Realmente muito devagar. Buzinavam atrás de mim e o mundo estava fechado ao meu redor. FILHO DE UM CARALHO, gritavam. PIIIII PIPIPIIIIII PIIIPIPIIIIII, eu quero mais é que eles se fodam. Sou eu e meu carro, meu carro e eu e todo o lixo aqui presente. Encostei e uma puta veio desfilando. Elas, sempre elas.
- Oi, benzinho. Vamaê? - perguntou.
- Hoje, não, babe. Hoje não quero escrever sobre vocês. Você sabe, eu falo muito de putas e punhetas. Ninguém gosta tanto de putas e punhetas assim. - concluí.
- A punhetinha é dois real. Dois real a punhetinha.
- Querida, minha linda querida, procure um adolescente, ok? Aquele abraço.
Dei-lhe uma moeda e lá fui eu pelas ruas de novo.

Não fazia a mínima ideia de onde estava e meu senso de direção continuava tão ruim quanto minha literatura. Mas enquanto as paredes brancas não fossem realmente brancas eu estaria bem. Me dou bem com os sujos (os realmente sujos). Só sei que eu não via um pobre coitado há um tempo. Mas eu sempre me senti bem sozinho, então tanto faz. O rádio tocava o lixo do lixo dos anos oitenta, o que fazia os anos noventa parecerem uma dádiva. E eu nem preciso dizer o quão ruim foram os anos noventa. E eu dirigia e até aí tudo bem.
Foi aí que eu a vi. Eu tinha certeza que a havia visto. Pela graça de DEUS eu a vi. Cabelos loiros como o sorriso de uma criança inocente, pele branca como a do próprio Hitler, aquele judeu. Era um anjo, com toda a certeza. E a voz suave, mansa, me chamava para perto do seu seio, da sua graça. A única ideia correta naquele momento era ir de encontro a ela. Era abraça-la forte, na esperança de que aquilo tudo nunca se acabasse, a beleza nunca chegasse ao fim, e o amor nunca se transformasse em ódio. Algo impossível, no mundo de hoje, mas enfim. O fiz. E o monólogo mais estranho da minha vida começou. Você fala coisas inacreditáveis quando está com a pica dura.
- Eu te amo. Eu simplesmente te amo. Eu não consigo ficar mais um dia da minha vida sem você. Cada segundo longe da sua boca é o pior segundo da minha vida. ME LEVE PARA O CÉU PELO AMOR DE DEUS. Eu quero escorregar para dentro de você. Eu quero DORMIR dentro de você. Caralho, você é a porra de um anjo. Eu tenho certeza disso. Você foi moldada pela porra do Michelangelo. Não. NÃO! Pela porra de Deus, aquele divino. Me leva, simplesmente me leva. Abra suas asas e me leva com você. Quer casar comigo, anjo da minha vida?
- Cara... - meu anjo disse.
- SIM, MINHA VIDA.
- Você tá viajando.
Entrei no carro e fui pra casa. O pau mais duro que pedra.

3 comentários:

Bruno disse...

Cara, gosto do jeito que você escreve, mas tenta ver um pouco as coisas além de você. Tenho achado seus textos muito egocêntricos, muito compartilhamento de mazelas, olhem como eu sou um fodido, e a vida é uma merda. Tenta tirar um sarro das coisas como elas são por sua maneira absurda e horrível de ser. Se colocar como um sofrido que percebe a merda e se perturba com isso é piegas demais.

Outra coisa que eu acho que você poderia mudar. Ficar escrevndo pica dura, buceta, caralho, etc, não deixa o texto mais maduro, sujo, escrachado, ou o que quer que seja. Acho interessante o uso disso quando se faz necessário, mas você tem banalizado essas palavras, tem ficado chato, nonsense, barato. Dá pra você ser perverso e obscuro sem usar palavrões.

Abs

Bruno disse...

Ah, outra coisa. "Era na bosta que eu me sentia limpo e livre e completo e cidadão." Cara, pára de ficar dramatizando e se martirizando dessa maneira.

Sério, isso aí, por exemplo, não significa absolutamente nada, pensa bem.

Flw

patrick disse...

Fala!!! Vou lançar um desafio pra você aqui agora!!! Quero um texto sobre esse momento de vocês da facul....formandos, ultimo churrasco, os rolos, a faculdade...todo esse meio que te envolveu nos ultimos anos.
Vamo ve oque rola....

Abrasss