segunda-feira, 24 de maio de 2010

A (falta de) boceta na minha vida.

Era domingo e eu não tinha porra nenhuma para fazer. Eu admirava a minha parede e a poesia era a coisa mais bela na minha vida, naquele momento. Me lembrei de quando vi a morte agindo, naquela tarde estranha há sei lá quanto tempo. O tempo passa rápido quando você está na mesma merda. Jack ainda não falava direito comigo, e eu não era idolatrado há uns bons meses. E a única coisa que me mantinha distante disso tudo era a preguiça. Eu abraçava a letargia, mordia-a bem no meio da espinha, colocando toda a força do mundo nos meus maxilares. Mas eu era isso mesmo. Eu era essa massa imóvel e ignóbil, e nem fodendo que eu iria mudar agora, há essa altura do campeonato, não tão longe da morte assim. Que ela venha, eu não tenho medo de caralho encapuzado nenhum.
Mas eu me sentia só. No fundo, no lugar onde guardo os sentimentos mais imbecis, como compaixão, eu me sentia só. A solidão apertava meu peito ao mesmo tempo em que eu apertava minhas bolas, desejando uma boceta nova. Minha ex-mulher não lembrava de mim há um bom tempo e eu não tinha confiança para, simplesmente, buscar alguma boceta em algum lugar. Conseguir mulher é uma coisa, boceta é outra coisa. Abri uma garrafa de vodka e liguei no canal pornô. Um negro imenso enfiava tudo o que tinha em uma japonesinha. Peitos miúdos, olhinhos apertados, uma rôla gigantesca e lágrimas. E eu só conseguia pensar na mãe daqueles olhinhos apertados.
Desliguei e me senti enjoado. Meu estômago se revirava em sinal de repulsa. A mãe daqueles olhos, agora cobertos de porra, não saía do meu alcance. E respirar doía e eu preferia estar morto a estar excitado. Corri para o banheiro e bati uma punheta com a porta aberta. Ao fim, soquei meu estômago quatro vezes, com toda a força que minhas mãos conseguiram conter. O impacto me fez vomitar, mas nada saía. Água, um pouco de bolachas e sangue. Quando você não tem nada para vomitar, o seu corpo leva um pouco do seu sangue mesmo. É como se ele dissesse Você ainda tem bastante dessa merda, foda-se você, enquanto exalava aquilo que mantém você vivo. Eu estava, oficialmente, no fundo do poço.
Era domingo e eu não tinha porra nenhuma para fazer. Cogitei comprar um cachorro mas desisti assim que lembrei do meu primeiro animal de estimação. Era um coelho, e eu tinha sete anos. Lembrei do momento em que decidi abri-lo ao meio com uma faca, tirando o coraçãozinho, o pulmãozinho e todos aqueles outros órgãos tão pequenininhos. Lembrei que, logo em seguida, plantei-o nos fundos de casa. E reguei. E reguei. E reguei. Por três meses eu reguei o meu coelhinho todos os dias. Mas a minha árvore de coelhos nunca veio. E, hoje, isso me parece uma ideia um tanto quanto imbecil. Se ao menos eu tivesse tentado com um hamster.
Deitei, fechei os olhos e fiquei nessa. A vida indo.

3 comentários:

Arthur Di Lorenzo disse...

Essa tirinha me fez lembrar desse post.

http://4.bp.blogspot.com/_y-v7ZnD6F00/SI4Zwe_-k4I/AAAAAAAAAno/qTflUnaz3jo/s1600-h/tira358.jpg

Eduardo disse...

Caraio vitao, se ta CHUPANDO O PAU DA BARRACA fio...kk...muito bom

Carlos disse...

Gostei da tirinha!