Saiu sem avisar a patroa. Foi só buscar o pão. Coisa rápida. "Se pá, ela nem sente a minha falta", pensou o pretinho. Cresceu rápido. Amadureceu da noite pro dia. Muleque das entregas aos oito, soldado aos doze, pai aos dezeseis. Veste o chinelo. Abre a porta do barraco e sai. Três passos e o chinelo arrebenta. Volta um pouco e deixa ele cair na porta de casa. Não podia se dar ao luxo de desperdiçar aquele pedaço de plástico, aquele pedaço de si mesmo. Pé no chão, do mesmo jeito que passou a infância interrompida. Anda doze metros e encontra seu destino. Nove milímetros, no meio da testa. Olhos abertos. Sangue. Horror. Saudade. Uma vida chega ao fim quase tão rápida quanto essa história. Mais uma.
Parágrafo inspirado pelas rimas talentosas do: www.myspace.com/emicida
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