Sentei no banco da praça e vi a vida passar. Cansado e esbaforido. Dor de amor, dor de corno, dor de cotovelo. Sentei no banco da praça e vi a porra da vida passar. Devagar e aos tropeços. Dor de cabeça, dor de estômago, dor no cu. Sentei no banco da praça e simplesmente fiquei ali.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
E dali eu vi a criança que chorava pela mãe. E eu estava pouco me fodendo. E eu vi o casal que já não se ama mais e não aceita o fim. E eu estava pouco me fodendo. E eu vi o velho de bengala que já desistiu de viver. E eu estava pouco me fodendo. E eu vi o sonho americano desaparecendo no cachimbo do mendigo. E eu estava pouco me fodendo.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
O jornal continuava cuspindo qualquer merda na televisão. As mulheres continuavam me ignorando e pisando sobre mim com seus saltos agulha. O meu emprego continuava a mesma merda de sempre. E cada vez mais eu era um cargo, um crachá. Eu era a pobreza das minhas ideias, a reunião cancelada às cinco da tarde, o e-mail que não chegou porque a minha caixa de entrada estava cheia. Alguns papéis amassados na lata de lixo e uma autosabotagem fodida.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
O calor do sol derretia o meu sorvete de morango que escorria insolentemente sem querer pela minha camisa xadrez. O mesmo calor do sol que queimava a testa achatada do nordestino, que ardia a costela demarcada do gado, que esfumaçava a visão do catador de lixo mais preto que a própria madrugada e que esperava pelo último suspiro da criança africana.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Porque todos ao meu redor ganhavam menos do que eu. E eu era muito mais homem que o pai de família com cinco filho pra alimentar com trezentos reais. Minha conta bancária falava mais alto que os meus atos. Os meus sonhos brincando de sadomasoquismo com o meu dinheiro, calados por uma bola de metal na boca, subjugados com um pau de borracha enfiado no rabo.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Eram vinte e três anos. Mais de duas décadas. Vinte e três aninhos de narizinho empinado, braçinho moldado na academia e roupinha da moda. Último botão da camisa aberto, combinando com o óculos RayBan. Tomando banho de sol na piscina do Hyatt enquanto olho pras bocetinhas cheirosas, só esperando o número mudar de sete pro oito para que elas possam receber meu bom e belo caralho sem que eu corra o risco de ser currado na prisão. Vinte e três aninhos e vinte e três centímetros de pica. Mentira.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Todo o meu talento desperdiçado com pouca bosta, com porca miséria em uma sala grande com um monte de mesa e uma parede decorada. Criatividade e alegria. O colégio caro e os beijos de amor e afeto dos meus pais escorrendo pelo ralo, misturado a todo o vômito e bile que o meu corpo é capaz de produzir. Resto da noite de ontem, quando eu tentei comer a loirinha, a ruivinha, a moreninha, a japonesinha e a mulatinha. Tudo para acabar em casa me acabando em punheta.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
E todas as vezes que eu não consegui gozar por estar bêbado demais, deprimido demais, viadinho demais. Todas as vezes que eu vi meu saco inchar e se desesperar aos poucos e todas as vezes que eu ignorei o seu clamor pelo alívio fácil, pela mão que sobe e desce, pela boceta que esquenta e desliza. De quando minha rôla perdeu a voz depois de passar uma semana na sarjeta por causa de uma única boceta.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Terminei meu sorvete de morango, passei cuspe na camisa. A criança foi procurar sua mãe sabe-se lá Deus onde. O casal que não se ama mais foi procurar o amor. O velho de bengala não morreu. O cachimbo do mendigo se apagou. E eu estava pouco me fodendo.
Pensei em me levantar. E aquilo já era possível.
Meu pau estava mole novamente.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
E dali eu vi a criança que chorava pela mãe. E eu estava pouco me fodendo. E eu vi o casal que já não se ama mais e não aceita o fim. E eu estava pouco me fodendo. E eu vi o velho de bengala que já desistiu de viver. E eu estava pouco me fodendo. E eu vi o sonho americano desaparecendo no cachimbo do mendigo. E eu estava pouco me fodendo.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
O jornal continuava cuspindo qualquer merda na televisão. As mulheres continuavam me ignorando e pisando sobre mim com seus saltos agulha. O meu emprego continuava a mesma merda de sempre. E cada vez mais eu era um cargo, um crachá. Eu era a pobreza das minhas ideias, a reunião cancelada às cinco da tarde, o e-mail que não chegou porque a minha caixa de entrada estava cheia. Alguns papéis amassados na lata de lixo e uma autosabotagem fodida.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
O calor do sol derretia o meu sorvete de morango que escorria insolentemente sem querer pela minha camisa xadrez. O mesmo calor do sol que queimava a testa achatada do nordestino, que ardia a costela demarcada do gado, que esfumaçava a visão do catador de lixo mais preto que a própria madrugada e que esperava pelo último suspiro da criança africana.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Porque todos ao meu redor ganhavam menos do que eu. E eu era muito mais homem que o pai de família com cinco filho pra alimentar com trezentos reais. Minha conta bancária falava mais alto que os meus atos. Os meus sonhos brincando de sadomasoquismo com o meu dinheiro, calados por uma bola de metal na boca, subjugados com um pau de borracha enfiado no rabo.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Eram vinte e três anos. Mais de duas décadas. Vinte e três aninhos de narizinho empinado, braçinho moldado na academia e roupinha da moda. Último botão da camisa aberto, combinando com o óculos RayBan. Tomando banho de sol na piscina do Hyatt enquanto olho pras bocetinhas cheirosas, só esperando o número mudar de sete pro oito para que elas possam receber meu bom e belo caralho sem que eu corra o risco de ser currado na prisão. Vinte e três aninhos e vinte e três centímetros de pica. Mentira.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Todo o meu talento desperdiçado com pouca bosta, com porca miséria em uma sala grande com um monte de mesa e uma parede decorada. Criatividade e alegria. O colégio caro e os beijos de amor e afeto dos meus pais escorrendo pelo ralo, misturado a todo o vômito e bile que o meu corpo é capaz de produzir. Resto da noite de ontem, quando eu tentei comer a loirinha, a ruivinha, a moreninha, a japonesinha e a mulatinha. Tudo para acabar em casa me acabando em punheta.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
E todas as vezes que eu não consegui gozar por estar bêbado demais, deprimido demais, viadinho demais. Todas as vezes que eu vi meu saco inchar e se desesperar aos poucos e todas as vezes que eu ignorei o seu clamor pelo alívio fácil, pela mão que sobe e desce, pela boceta que esquenta e desliza. De quando minha rôla perdeu a voz depois de passar uma semana na sarjeta por causa de uma única boceta.
Pensei em me levantar. Tentei. Mas aquilo não era possível.
Terminei meu sorvete de morango, passei cuspe na camisa. A criança foi procurar sua mãe sabe-se lá Deus onde. O casal que não se ama mais foi procurar o amor. O velho de bengala não morreu. O cachimbo do mendigo se apagou. E eu estava pouco me fodendo.
Pensei em me levantar. E aquilo já era possível.
Meu pau estava mole novamente.